As famílias portuguesas são das que mais sofrem com o rendimento disponível e a seguir à saúde e habitação, o custo de vida é o que mais as preocupa.
Quem o diz é António Correia, presidente da consultora PwC Portugal, que, por ocasião da 6ª Edição da Fábrica 2030, organizada pelo jornal ECO, citou dados da OCDE durante a sua intervenção para sinalizar que Portugal foi dos países europeus que mais perdeu poder de compra entre a pré-pandemia e a pós-pandemia e que o endividamento das famílias portuguesas está entre os mais elevados da Europa.
São dados preocupantes, mas que provam que o desenvolvimento de bons hábitos financeiros e de poupança é agora mais importante do que nunca. Especialmente porque os dados também nos dizem que as famílias portuguesas são as que menos poupam na Europa. Neste âmbito, neste artigo, exploramos cinco hábitos financeiros que podem ajudar as famílias a fazer uma boa gestão do seu dinheiro.
Chegar ao final do mês e conseguir poupar é um grande desafio para muitas famílias. Nos últimos dois anos os preços dos bens essenciais e serviços aumentaram e é cada vez mais difícil conseguir esticar aquilo que aparentemente já não estica. No entanto, o objetivo é que a poupança seja um hábito de rotina. Mas antes de pensar nisso tem de perceber o quanto gasta e no que gasta.
Portanto, o primeiro passo é mesmo sinalizar todas as despesas por grupos (alimentação, habitação, telecomunicações, créditos, etc) e ver onde pode eventualmente reduzir ou cortar. É também nesta altura que vai fazer a distinção do que realmente precisa e do que são hobbies e desejos. À primeira vista, parece algo básico, mas na prática, é mais complicado porque obriga a ter que fazer escolhas emocionalmente delicadas.
É um daqueles pontos que aparece em quase todos os artigos sobre poupança, mas há uma boa razão para isso. É através do orçamento mensal que vai conseguir fazer o planeamento e gerir o seu dinheiro — pois vai conseguir ver as despesas fixas e variáveis, o que está a gastar e o que pode poupar. Ou seja, é um documento que lhe dará uma visão mais ampla sobre o estado das suas finanças.
Pode fazê-lo num caderno e apontar as despesas à mão, numa folha de Excel ou até em plataformas especializadas que o ajudam caso não se sinta confortável para começar do zero (a portuguesa Boonzi está adaptada à nossa realidade financeira, mas existem outras internacionais como a Home Budget, Wally ou Toshl Finance). Hoje, a maioria das aplicações móveis dos bancos também já possuem este tipo de funcionalidades que ajudam a controlar despesas. O importante é que tenha um documento ou registo das suas contas.
Mesmo que o ordenado esteja quase sempre contado, não abdique de ir poupando. Por muito pouco que ache que seja a poupança que consegue fazer, o importante é que ponha sempre alguma coisa de lado. Exemplo: se poupar 0,50 cêntimos por dia, menos do que aquilo que gastaria num café, sem que dê por isso, poupa 182 euros por ano. Se poupar 50 euros por mês, ao fim do ano poupa 600 euros. Note que se não quiser poupar por dia, pode sempre poupar durante a semana ou ao fim de semana.
Outro exemplo de poupança: uma casa que tenha duas plataformas de streaming para ver entretenimento, vamos supor uma a custar 7,99 euros no preço mensal base e outra a 10,99 euros nas mesmas condições. Somado, é uma despesa fixa por mês que não chega a 20 euros — não parece assim muito. Mas se a família decidir cortar despesas não essenciais e escolher ter apenas uma, pode fazer uma poupança de 95 euros / ano caso abdique da primeira e 132 euros no caso da segunda. Agora, vamos supor que a família decide poupar os 95 euros do streaming e pôr de lado 0,50 por dia num pote. Fazendo as contas, só neste pequeno exercício já poupou 277 euros ao final do ano. E se a família somar esta poupança a outra e outra, este valor só vai subir.
O que importa é que adapte a estratégia à sua vida e/ou agregado e que pense um pouco mais a médio e longo prazo. Seja solteiro e ganhe o salário mínimo, 1.000 euros ou 1.500 euros, faça parte de uma família e/ououtras despesas, o exercício de definir um valor a gastar ou a poupar tem a mesma finalidade: assimilar rotinas de poupança.
Uma forma que pode ajudar quem tem mais dificuldades em poupar passa por estabelecer objetivos. Reservar uma percentagem do salário para poupar a pensar na reforma, numa viagem, num carro ou na entrada de uma casa pode ser um excelente incentivo. Isto porque ter uma meta a alcançar vai fazer com que não se desvie dos seus objetivos de poupança.
Assim como é boa prática saber resistir e evitar fazer compras por impulso. Atualmente as aplicações móveis e plataformas de comércio eletrónico oferecem muitas tentações, mas que podem ser prejudiciais às rotinas de quem está a tentar criar um pé-de-meia. Antes de avançar, pondere durante um dia ou dois antes de tomar a decisão e carregar no botão “comprar”.
Outro comportamento comum é gastar a totalidade do salário e viver “mês a mês”. No entanto, o ideal é que ganhe o hábito de não gastar tudo o que ganha.
Para ser mais fácil fazê-lo, reveja as suas contas mensais fixas e, se conseguir, renegoceie os contratos dos serviços essenciais como a eletricidade (será que precisa da potência toda que paga?), gás ou telecomunicações (reduzir a velocidade da Internet ou diminuir a quantidade de dados móveis pode ajudar a reduzir a fatura) até encontrar uma situação que lhe seja mais vantajosa.
O mesmo vale para possíveis créditos que tenha contraído.
Assim que pagar todas as despesas fixas transfira uma percentagem do salário (ou o montante que decidiu poupar) da conta à ordem para uma conta poupança (ou uma conta diferente da que utiliza para o dia-a-dia). Com este truque,não só vai conseguir saber o montante que tem nas poupanças como não vai ter a tentação de o gastar.
E se quiser aumentar ainda mais a poupança, pode sempre aplicar o dinheiro que tem de parte em Certificados de Aforro, os instrumentos de dívida criados pelo Estado com o objetivo de captar a poupança das famílias. Deste modo garante que o seu dinheiro “parado” está a render e que não é “consumido” pela inflação (o custo de vida) e perde o seu valor.
Por tudo isto, no que toca às finanças, é importante que tome decisões ponderadas e que não comprometa o seu caminho até à poupança. Pedir um crédito pessoal de forma responsável e flexível como o do Banco Primus, por exemplo, pode ser uma boa ferramenta económica se as taxas de juro forem baixas e se isso não significar que vai contrair ou aumentar dívidas.
Em suma, criar bons hábitos financeiros requer tempo, esforço e dedicação, mas as recompensas são inegáveis uma vez que está a lançar as bases para construir um futuro mais seguro e robusto — para si e para a sua família.